A MOITA DO MOITA

A MOITA DO MOITA

Eu só não quero é ter remorso.

23 outubro 2006

Biodiesel afinal, qual é o problema?

Como diz o físico Cezar de Aguiar, “Todo óleo vegetal — há quase 200 deles — é constituído de alguns tijolinhos moleculares específicos, os chamados ácidos graxos. Estes apresentam estruturas moleculares levemente diferentes entre si o que confere a cada óleo algumas características únicas quanto a suas propriedades fisico-químicas.

São essas propriedades — entre outras — que por fim determinam o comportamento dos óleos quando se tenta queimá-los como se fossem diesel”.

“Óleo vegetal transesterificado, após processado num reator, torna-se o chamado biodiesel e tem, assim, amenizadas as propriedades indesejáveis que impedem seu uso "in natura" como combustíveis.

Mas essa operação não é algo trivial que possa ser feita facilmente no sítio de um agricultor, em pequena escala e com aparatos simples. Exige aparelhagem complexa, em condições estritamente controladas, para que o produto final não contenha glicerina residual, ácidos reativos ainda livres, sabões metálicos, gomas, flocos, borras e outras impurezas que poderiam formar depósitos, atacar peças, contaminar o óleo lubrificante, entupir filtros e galerias internas dos motores e gerar emissões perigosas como a acroleína. Algo impensável.”

Festival de espécies oleaginosas

Não existe cabimento em desenvolver um programa nacional de biodiesel usando para isso dezenas de opções, como o governo propõe. Simplesmente porque com uma composição de ácidos graxos diversos, dependendo da espécie vegetal, do clima da região, da umidade e até da composição dos solos, os ésteres resultantes teriam características físico-químicas totalmente diferentes.

No Brasil, o biodiesel é visto como um programa de boas intenções, como ferramenta de distribuição de renda mínima e incentivo social para fixação do homem à terra.

Só que não dá para imaginar um veículo abastecido no Paraná com ésteres metílicos derivados de soja, isto é, biodiesel em mistura com diesel comum, viajar até Minas Gerais, sendo reabastecido com ésteres etílicos de mamona e diesel, e prosseguir viagem utilizando ésteres metílicos ou etílicos de dendê no Pará.

Um programa com sérios riscos

O que atenta contra a racionalidade do atual programa brasileiro de biodiesel nem é o excesso de alternativas. Tomemos o óleo de dendê como exemplo. Ele possui alto valor no mercado internacional, de quatro a cinco vezes mais caro em relação ao derivado de petróleo.

É bastante utilizado como lubrificante tópico em operações que envolvem processamento ou beneficiamento de metais. Queimá-lo como combustível não parece racional já que utilizá-lo como preciosa matéria prima seria bem mais vantajoso. Além disso, a primeira safra ocorre entre 7 e 11 anos depois da plantação.

O biodiesel nos termos atuais gera belos discursos, porém sem passar por testes que garantam que a idéia de multifontes funciona. A probabilidade de problemas é muito alta.

O consumo de óleo diesel no Brasil hoje alcança cerca de 40 bilhões de litros por ano. E se o prometido crescimento econômico vingar, esse consumo vai aumentar de modo rápido e inexorável. Só para fazer a mistura de 2% ao diesel há necessidade de produzir 800 milhões de litros de biodiesel a partir de 900 milhões de litros de algum óleo vegetal bruto a ser processado.

Para 5% de mistura (também obrigatória por lei) serão necessários 2 bilhões de litros de biodiesel (2,2 bilhões de óleo bruto) para o consumo atual de diesel. Também é preciso haver álcool suficiente para realizar a transesterificação. O uso crescente de álcool nos motores flex e a cotação elevada do açúcar no mercado externo são complicadores.

Dos cento e tantos óleos “em estudo” somente o de soja preenche o requisito de já ser produzido em altos volumes. Simplesmente porque é um produto do agro negócio organizado, de grande porte, com tecnologia de ponta, políticas fitossanitárias adequadas, responsabilidade em defensivos agrícolas e ampla mecanização das colheitas.

A infra-estrutura de transporte ainda deixa a desejar no atendimento aos pólos de produção. Não há, porém, excedentes dessa commodity. Tudo é colocado no mercado local e internacional. Com resultados econômicos melhores do que transformá-lo em biodiesel, pelo menos por enquanto.

Não sou contra ao aprofundamento dos estudos e nem do uso de biodiesel, no futuro. Vejo graves problemas no modelo e forma que o atual Governo propõe.

Amoitaram-se

13 Comments:

At 1:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Sugiro o seguinte link:

http://www.fendel.com.br/

 
At 4:34 PM, Blogger Nat said...

Moita,

O Camarada Arcanjo também escreveu sobre o tema, mas com abordagem diferente.

Bjs

 
At 6:04 PM, Blogger Moita said...

Everson

estou lhe respondendo aqui porque parece que voce não tem blog.

Sugiro ao autor do link que você indicou, que eu já li, que leia A Moita, certamente, teremos uma discursão técnica bastante interessante.

Como já disse em comentário anterior, não sou jornalista; sou técnico.

Abraços

 
At 7:57 PM, Blogger Nat said...

Querido Moita,

Perdoe-me a indelicadeza. Espero sinceramente que seus problemas de saúde estejam cada vez menores e tendam a desaparecer por completo no curtíssimo prazo!

Bjs

 
At 8:48 PM, Anonymous Anônimo said...

Moita, melhoras, amigo, eh o que mais importa!

abrax

RF

 
At 9:50 PM, Blogger Alexandre, The Great said...

Moita.

Uma aula !
Eu já tinha alguma noção da inviabilidade técnica da produção de biodiesel a partir da mamona, mas nunca tão esclarecedora como esta que vc nos brindou.

Esta é mais uma empulhação do molusco sobre a massa ignara, que acredita em biodiesel, na autosuficiência em petróleo e, o que é pior, que elle "nada sabe".

È dose pra mamute...

 
At 10:32 PM, Blogger Saramar said...

Moita, boa noite.
Obrigada pela aula. Magistral, como se diz.
Pelo que entendi, e você em sua habitual polidez não quis dizer, é que o governo está nos enganando (o que é totalmente incrível) com esta balela de biodiesel.

Beijos
P.S.1. Cecília deve estar se revirando, tadinha!
P.S.2. Espero que esteja melhor.
P.S.3. Gostei da rima.

 
At 11:06 PM, Blogger Brena Braz said...

Vai lá no meu blog deixar um cheiro.
To sentindo sua falta... rs
Beijao

 
At 2:27 AM, Blogger Moita said...

Saramar

O Biodiesel não é uma balela. Pode ser muito bom.

Mas tem tanto problema ainda a ser resolvido, que pode demorar anos, pelo menos com a mamona Nordestina.

A balela que você tem razão é que Lula anuncia como sendo coisa dele e que logo, logo estaremos usando.

Como voce disse, isso é coisa antiga. O biodiesel é muito mais velho que o próprio Rudolfo Diesel.

 
At 10:48 AM, Anonymous Anônimo said...

Esse assunto é fascinante ainda mais quando vc exclarece para quem não entende do assunto.Desejo melhoras.A saúde debilitada é uma grande contrariedade.

 
At 10:49 AM, Blogger Chris said...

O Biodiesel é uma coisa para longo prazo, só que o Lula fica por aí falando como se fosse a coisa mais fácil do mundo e que foi ele que fez.
[]'s
Ps.: Que bom que vc está melhor! Logo, logo você estará novinho em folha. :-)

 
At 5:51 PM, Blogger Brena Braz said...

hahahaha
A "boazuda" da foto não sou eu se vc está se referindo àquela foto da mulher de costas (morena).

Sou eu somente na foto de rosto, no perfil, loira. Rs
:P

Bjos

 
At 11:05 AM, Anonymous Anônimo said...

Olha o que encontrei na internet!

www.elsbett.com.br

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