Sou engenheiro, portanto não sou filósofo, nem pedagogo e muito menos educador da infância. Mas acho que conversando com alguns amigos, levantamos uma tese que tenta explicar porque nós brasileiros somos medrosos, não brigamos pelos nossos direitos, nos acovardamos diante de atitudes cívicas e nos escondemos na hora que, exatamente, deveríamos lutar.
A culpa está nas canções de ninar, nas fábulas e historias infantis contadas as nossas crianças.
Nos Estados Unidos as canções pra criança dormir são assim: traduzidas é claro:
“Boa noite, linda menina, durma bem.
Sonhos doces venham para você,
Sonhos doces por toda noite”...
No Brasil é assim:
Boi, boi, boi.
Boi da cara preta
Pega essa menina...............
Vejam só: o boi, a gente, que é adulto, até conhece sua reações e agressividades; as crianças, nem sei se conhecem. Mas tudo bem, pelo menos, as nossas crianças conhecem boi.
Nana neném que a cuca vai pegar...
Esse bicho, nem eu conheço, imagina as crianças.
Vejam o que diz um amigo da minha amiga Maria Elizabeth que lhe mandou um e-mail e não quis se identificar:
O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância!!!! Trauma causado pelas canções da infância.!!!!
Vou explicar: nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta porrada da vida e ficamos quietos.
Exemplificarei minha tese:
Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca-ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu,
Miaaau!
Para começar, esse clássico o do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "D.Chica". Uma vergonha!
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância comum, carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério!!!
Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
Quem foi o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú.....
Marcha soldado,
cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
De novo, ameaça! Ou obedece ou você vai se fu..... Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa....
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa da (Fulana)
Que não soube remar.
Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar o semelhante. Bate nele, mãe!
Samba-lelê ta doente,
Ta com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas chineladas.
Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú......!!
O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa coisa anos a fio??
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
Desgraça, desgraça, desgraça! E ainda incita a violência conjugal.
Ah!!! Você esqueceu desta:
Passa, passa, (três vezes)...
o último que ficar
tem mulher e filhos
que não pode sustentar...
Aí, ter mulher e filhos que não pode sustentar fica super normal e ainda passa três vezes. Começa a se aceitar o desemprego como uma normalidade, Mas uma “normalidade” brasileira.
Bem, se você não conhece todas essas musiquinhas, não se desespere. É porque o Brasil é grande.
Nem vou falar das historinhas infantis. Aquelas que têm a mania de sempre levar a menina pra dentro do mato. Isto será prosa pra outro post.
Obs: Eu já tinha metade deste post pronto, aí, recebi parte deste texto por e-mail, sem créditos. Publiquei exatamente aquela parte que recebi, exatamente, como estava escrito e tem muito caco que eu enfiei aí pelo meio. Já não sei mais quem é o autor.